sábado, 15 de junho de 2024

UM SAMBA PARA ELA...


Enquanto estive aos teus pés

Farto, meu amor foi existindo

Meu destino sofreu um revés 

Um blindado coração foi se esvaindo


Quando vi os teus pés

Brancos, fesceninos

Entre altares e anéis

Vi meu amor em desatino


E desfilavam sem destino

Sobre saltos pequeninos

Na passarela da minha inspiração 


E quando amei teu corpo inteiro

Fizeste de mim teu fevereiro

Um carnaval de ilusão.

terça-feira, 19 de março de 2024

CALMARIA

 



Maré vazante

feito lençol, descobre a areia cristalina
acordando o sono tranquilo das algas
tão verdes azuis, que até lembram olhos
que os meus, negros, um dia vislumbraram.

Sobre a preguiça certeira da praia
dá até para escutar do murmúrio das marolas
a agonia do distante pescador
solitário, neste imenso horizonte sem fim.

Apenas a alegre recordação

do teu corpo, esguio, deslumbrante

adornado pelo fervor de um sol reluzente
distrai-me neste instante.


E a liberdade das gaivotas
e o bailar frenético dos coqueirais
moldando este meu destino
imerso em afetividade e resignação.


Jaguar Araújo



sábado, 10 de abril de 2021

SAUDADES...

 

Onde estás tu

Que se perdestes

Por sobre as nuvens solitárias deste outono

Onde estas tu que me fizeste ver

Um horizonte único, tranquilo, avassalador

 

Quando a brisa tênue

Alisa minha face envelhecida

Sinto tua respiração em meus delírios

Próxima, morna

Acariciando-me

 

E enquanto o que restou do sol do verão

Frequenta este infinito céu das minhas lembranças

Sinto teu fervor

Intenso; maravilhoso fulgor feminino

Que ainda me faz devanear


                                                                    Jaguar Araújo

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

A FRIGIDEZ DO TEU AMOR...

 

Uma frieza absoluta

O inverno em tua alma

Que em meio a esta labuta

Vez ou outra me acalma

 

E na mais linda expressão da dor

Que em teu semblante juvenil fascina

Jorra a aquarela quente do meu fervor

E sobre teu corpo: Gozo e serpentinas.

                                Jaguar Araújo


sexta-feira, 8 de novembro de 2019

MAR DE AMOR...












No teu mar calmo
De água morna
E marés constantes
Velejei suavemente

O destino? O meu destino...
Iluminado pelo sol reluzente
Que pairava
No horizonte sem fim dos teus olhos

Minha devoção, sagrada
Nunca te desejou para sempre
Pois não seria justo
Um oceano tão encantador
Ser somente meu.

Jaguar Araújo


terça-feira, 16 de abril de 2019

O AMOR E O OUTONO...

O restinho de sol, inebriante, fita-me
Em meu colo reservado
descansam solitárias as minhas mãos
começo a pensar em vestir o casaco
pôr as luvas, o gorro
e a sonhar com amores mais ardentes


Para todo bom fim de verão
surge um outono travesso, jovial
com uma inigualável ternura
que rapidamente, haverá de se tornar
dona
desta minha infinda peregrinação

Jaguar Araújo

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

MAIS UMA VEZ, COLTRANE...




Provo dos teus prazeres
pois tu és a preferida, o amor maior
dos teus beijos
precipita a natureza
na forma mais majestosa
e a saliva dos nossos lábios
mal acostumados, com o desamor de tantos

Quisera eu ter-te para sempre
Oh Deus, porque presentear-me com esta fortuna
a troco de nada
mas, amarei-a mesmo assim
escondido, calado
acometido por um amor verdadeiro 
até o fim, desta existência maravilhosa.


Jaguar Araújo, 11/01/2019.

quinta-feira, 14 de junho de 2018

BOM MESMO É PODER VIVER...E SENTIR...



Vejo-te assim
Com o pecado a aflorar
Até fantasio contigo
Em noites promíscuas, inquietantes

Não é paixão que sinto agora
E sim o desejo mais latente
Que espreita este fim de tarde
Inerte, apenas esperando-te.

Jaguar Araújo

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

À MUSA DE TODOS OS TEMPOS VIII












É de tua boca limpa que sinto saudade
Das flores que enfeitavam teu sorriso
Intenso, de uma alegria persistente

Dos raros caminhos que percorremos
Nasceram trilhas, de grama rasteira
De fragrância leve, delicada, inexplicável

Forjou a natureza
As mais belas paisagens
Suntuosos castelos verde-anis

Morada de sonhos incríveis
Inspiradores momentos por ti

Eternizando ainda mais minha devoção

Jaguar Araújo

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

À MUSA DE TODOS OS TEMPOS VII

Quando rubro os meus olhos
É por ti
Por tua perfeita simetria
Esculpida e admirada
Entre o tempo em que foste minha

Nem sempre há justiça no amor
Mas haverão flores em minhas inspirações
Noturnas, como esta lua bela
Que enfeita esta amplidão de agora
E que batizei com teu nome
Para nunca mais esquecer.


Jaguar Araújo

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

À MUSA DE TODOS OS TEMPOS VI

À noitinha, navego em sons
Dissonâncias que ecoam teu nome
A suavidade dos teus passos
Vívidos como tua mocidade
Alegre sorriso inocente
Tua perversa imensidão
Que hoje, vislumbrei inalterada

Tua intacta cor de sapoti
Resplandecia, como se o tempo
Para ti, não existisse
Afeto e submissão
Surgiram freneticamente
Do meu coração adormecido
Que agora dança, solto, maduro, infantil.

JaguarAraújo, 04/11/2016

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

MANGA ESPADA


A fineza
De uma existência farta
Frondosa, límpida, intensa
Fruta gostosa, carnuda
Que se come sorrindo
Pois alegria há
Na imensidão da tua floresta
Onde me criei índio
Faminto por teu fruto

Outrora, em teus belíssimos braços
Fui tua cria
Primaveras luxuosas
Pertenceram a ti
O teu conforto e tua sombra
Foram meu guia
E tua natureza pródiga
O meu encantado amor.


(Jaguar Araújo, 10/2015)

quinta-feira, 7 de maio de 2015

A NOITE...


Adornam o céu as nuvens cinza
Ah, o crepúsculo à vista
Berço dos meus mais insanos desejos
Lá, outrora, descansaram
E agora em fuga, aflitos
Invadem a alma da noite
Perigosos sentimentos profanos
Que faz esboçar um riso em meu semblante pacífico
Uma alegria besta
Que não faz mal a ninguém
Apenas festeja.

Jaguar Araújo, 07/05/2015

segunda-feira, 24 de março de 2014

Martinho Da Vila - Minha e Tua

Deus abençoa porque
Somos o sol e a lua
E quando há um eclipse
Minha vida é minha e tua
Num simples toque de olhar
Faz se sentir toda nua
E pra escandalizar
É só minha linda e pura
Vida minha
Minha
Tua
Minha
Tua vida é minha e tua
Ela é a terra virgem
Eu semente de paixão
Nossas lágrimas são chuva
Nossos corpos plantação
É uma afrodisia
A me fazer germinar
Desbravando o seu corpo
Sinto o tato das carícias
Que só eu posso provar

quarta-feira, 12 de março de 2014

TÁ DELÍCIA, TÁ GOSTOSO...

Admiro a poesia assim, gostosa...
Aprendi a muito que o samba possui poetas maravilhosos, Martinho é um deles. E essa música especialmente me faz lembrar coisas interessantíssimas; essa minha boemia que se já não se faz tão presente, ainda emociona.



Assim como adolescente
O cupido me pegou
Me apaixonei por seu beijo
Sem você eu nada sou

Vem me salvar boca a boca
Tô morrendo de amar
Vem fazer amor bonito
Vem pra se deliciar


Você é fêmea no cio
Deixa seu macho dengoso
Quando diz no meu ouvido
Tá delícia, tá gostoso


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

POR TUA ALMA SACANA

Agora sim, uma poesia deliberadamente escrota! Escrita há uns vinte anos atrás foi construída para ser safada, direta, com toda má intenção possível.
Não foi direcionada a ninguém especificamente, e sim uma homenagem a todas as mulheres desta vida fantástica, que, por serem destemidas, curtem ter e dar prazer:


Serás Deusa
seminua em minha presença
e despirei as tuas últimas vestes
com a minha própria boca
a mesma que provará todo o teu suor
a mesma que te fará louca

atirarei farpas e desejos sobre a cama
desforrarei teu pecado
aliciarei tua chama
enforcarei teu pudor
e te amarei sacana

inspirar-me-ei com os teus gemidos
gemidos não, gritos!
que acordarão a tua fama
e não vais pedir clemência

pois sei que em tua dor
em tua demência
és na verdade puta
porém puta apenas numa cama

(Jaguar Araújo)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

SAUDADES

Poesia antiga, escrita há muito, muito tempo atrás. Lembro-me dela ter sido inclusive publicada no “Jornal A Tarde” da época.
Saudade é bom, principalmente quando é sadia, amar é bom, quando se sabe que nada é permanente e tudo tem o seu tempo certo.

Na prática do bem-estar colhemos frutos, uns são replantados, outros consumidos nessa ceia farta da vida, que por ser maravilhosa, deve-se saber aproveitar:


Ao entardecer
ressurge a coragem de fugir ao teu encontro
como nos idos de outrora
E no limiar de minh’alma deserta
emana o fogo da paixão, do desejo
que mina a minha sã consciência
trazendo lembranças de ti
Então, sinto como se pudesse tocá-la
sentir teu corpo, teu perfume
até mesmo o sabor dos teus lábios
ouvir tuas palavras
perceber teus mínimos gestos
vivendo assim
a fragilidade do meu coração
que não me perdoa
por ter deixado tu partiste tão breve
forçando-me a febre de viver
na eterna solidão

(Jaguar Araújo, em algum lugar no fim da década de 80)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013


Era dia na ilha de Cacha-Pregos, Município de Vera Cruz, onde eu costumava passar meus verões...
Entre o descanso da alma e o tormento da realidade, lá estava ele... o bom e velho desejo, transfigurado na figura limpa de uma bela e desconhecida fêmea, e eu, pasmo, não conseguira me conter, daí então surgiu à inspiração...


Cabelo despenteado pelo vento
areia na face
e a morena caminha por entre as águas
diante dos meus olhos

Abaixa e sacode o jereré
pitu, siri, peixe miúdo
deu de tudo
só não viu meu coração desolado
que ficou na areia

Vestido curto, molhado
quase transparente
e teu olhar inocente
capta-me, no ato

e um sorriso gostoso
desabrocha em teus lábios
que gosto salgado deve ter aquele corpo
tão suado...

O nome, Iramaia...
pena que soube só depois que ela se fora
perguntei a um garotinho ali da praia
que disse ainda que a danada
além de linda, era professora.

(Jaguar Araújo, Dezembro/1992)

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

BELAS PASSAGENS...

Algumas poesias são palpáveis, visíveis a olho nu. Principalmente quando criadas na plenitude do realismo da inspiração, e arquitetadas carinhosamente.
Apesar de sido construída em Setembro de 2006, hoje, anos depois, eu tive o imenso prazer de rever esta poesia...


Carne crua, nua
Perdida na cama
Ama de um olhar vagabundo
Mundo, esse meu foi embora
Hora, que passava depressa
Pressa, como ter nessa hora?

Linda e sutilmente perversa
Abriu a caixa de pandora
Ora, que lembrança porreta
Pensar que de amora
Era o gosto daquela boceta.

(Jaguar Araújo)

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O DIA DAS CRIANÇAS ABANDONADAS


A noite
Que apaga o dia
Cobra caro, pra quem não lhe deve nada
E é lá que dormem as crianças banidas
Sobre o frio da alma
Cobertor de papelão
Papel de parede, plástico
Que forra a sua cama/chão

E nas latas de leite vazias
Ou entre as mãos
Imploram o alimento fraco
Mas, o que é forte para fome?
Talvez, a ganância do homem...
Talvez, a cola de sapato!


(Jaguar Araújo, 1990)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A TRISTEZA E O INVERNO...


Ruas escuras, desertas
De homens e almas
Somente o frio freqüenta agora
Esses caminhos que a mim pertencera

Culpa deste inverno devassador
Da falta de agasalhos
De leite morno, de pão
Deste gélido coração

Não vejo à hora de ressurgir a primavera
Suas flores nítidas, embriagadoras
E o desejo intrínseco de renovação

Um novo aroma, a claridade
As acácias soltando sobre meus olhos
Fazendo meu espírito novamente laborar.


Jaguar Araújo, 08/2007

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

DRÃO...


O apelido foi dado por Maria Bethânia. Drão vem do aumentativo de Sandra, a terceira mulher de Gilberto Gil. Ao virar título de um dos maiores sucessos do compositor, o apelido incomum sempre foi confundido com a palavra "grão". Sandra Gadelha desfaz o mal-entendido e se assume como inspiração dos versos densos, compostos em 1981, em plena separação do casal. Gil diz que foi bem difícil escrever a letra, uma poesia profunda e sutil do amor e do desamor. "Como é que eu vou passar tanta coisa numa canção só?", questiona-se Gil no livro "Gilberto Gil-Todas as Letras" (Cia. das Letras). 


Os dois foram casados por 17 anos e tiveram três filhos: Pedro, Maria e Preta. Hoje, aos 53 anos, Sandra mora sozinha no Rio, sonha em montar uma pousada e se lembra com carinho da canção que marcou o fim de seu casamento. Por uma feliz coincidência, Sandra costuma ouvir sempre a "sua" música no rádio do carro. Uma emissora carioca parece estar programada para tocá-la todos os dias, às 11h. A ouvinte especial está sempre sintonizada. 


Sandra Gadelha "Desde meus 14 anos, todo mundo em Salvador me chamava de Drão. Fui criada com Gal [Costa], morávamos na mesma rua. Sou irmã de Dedé, primeira mulher de Caetano. Nossa rua era o ponto de encontro da turma da Tropicália. Fui ao primeiro casamento de Gil. Depois conheci Nana Caymmi, sua segunda mulher. Nosso amor nasceu dessa amizade. Quando ele se separou de Nana, nos encontramos em um aniversário de Caetano, em São Paulo, e ele me pediu textualmente: 'Quer me namorar?'. Já tinha pedido outras vezes, mas eu levava na brincadeira. Dessa vez aceitei. 


Engraçado que Gil mesmo não me chamava de Drão. Antes havia feito a música 'Sandra'. Já 'Drão' marcou mais. Estávamos separados havia poucos dias quando ele fez a canção. Ele tinha saído de casa, eu fiquei com as crianças. Um dia passou lá e me mostrou a letra. Achei belíssima. Mas era uma fase tumultuada, não prestei muita atenção. No dia seguinte ele voltou com o violão e cantou. Foi um momento de muita emoção para os dois. 


Nos separamos de comum acordo. O amor tinha de ser transformado em outra coisa. E a música fala exatamente dessa mudança, de um tipo de amor que vive, morre e renasce de outra maneira. Nosso amor nunca morreu, até hoje somos muito amigos. Com o passar do tempo a música foi me emocionando mais, fui refletindo sobre a letra. A poesia é um deslumbre, está ali nossa história, a cama de tatame, que adorávamos. No começo do casamento moramos um tempo com Dedé e Caetano, em Salvador, e dormíamos em tatame. Durante o exílio, em Londres, tivemos de dormir em cama normal. Mas, no Brasil, só tirei o tatame quando engravidei da Preta e o médico me proibiu, pela dificuldade em me levantar. 


A primeira vez em que ouvi 'Drão' depois que Pedro, nosso filho, morreu [num acidente de carro em 1990, aos 19 anos] foi quando me emocionei mais. Com a morte dele a música passou a me tocar profundamente, acho que por causa da parte: 'Os meninos são todos sãos'. Mas é uma música que ficou sendo de todos, mexe com todo mundo. Soube que a Preta, nossa filha, chora muito quando ouve 'Drão'. Eu não sabia disso, e percebi que a separação deve ter sido marcante para meus filhos também. As pessoas me dizem que é a melhor música do Gil. Djavan gravou, Caetano também. Fui ao show de Caetano e ele não conseguia cantar essa música porque se emocionava: de repente, todo mundo começou a chorar e a olhar para mim, me emocionei também. E, engraçado, Caetano é o único dos nossos amigos que me chama de Drinha." 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

SONETO PARA UM NOVO AMOR

Ah, sublime novo amor
livre e desenvolto como o vento
de uma nova paixão
de uma nova mania

absurdo amor
viveiro das caricaturas dos meus dias
das minhas amarguras
das minhas alegrias

amor, sublime amor
onde o rancor e o ódio não perpetuam
onde meu peito é só folia

banhas com orvalho a manhã
de ouro e prata
e saboreia a riqueza desses meus dias.

                       (Jaguar Araújo, 1990)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

RABISCOS ROMÂNTICOS

Alguns textos antigos como este, escrito no inicio da década de 90,  parecem não envelhecer nunca, muito menos essa necessidade incrível de amar sem hipocrisia, como um bom amor (inclusive o efêmero) para ter um gosto especial, necessita ser.


E a juventude
bate novamente à minha porta
guiada pelos beijos de agora
pelas tuas mãos que me acompanha
pela tua manha

E por teu sorriso verdadeiro
julgo o meu erro
de só querer-te agora
tão próximo à aurora
tão perto de íris embora

(Jaguar Araújo, 1990)

quarta-feira, 24 de julho de 2013

UMA HOMENAGEM AO BEM-ESTAR

Algumas pessoas sabem passear livremente em coração alheio, meio que sem destino, sem intenção, apenas aproveitando suavemente o caminho; outras simplesmente passam.
No meio dessa tortuosa e maravilhosa peregrinação, surgem seres atípicos, que intencionalmente não plantam nada, porém consegue ornamentar a alma desejosa com uma textura leve, perfeita, saudosa. Deixam sem querer um sentimento limpo, interessante, mas que não é amor: É bem-estar!


Cedo dormiste
E um encanto oculto
Exalavas d’alma pervertida
Uma paixão ardente, avassaladora
Brotara do meu amadurecido coração
Charme e acalanto
Nascendo ali, meio que sem querer
Por entre os ricos caminhos do teu corpo
Que, por ser efêmero
 Breve deixara deserto
O palácio que construíra para ti, em meu leito
De puro luxo e alucinação.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

BERLINQUE



Pássaros distantes, voantes
Quebra a monotonia deste horizonte pacífico
Submergindo entre as infindas ondas

Aqui, onde jazem as minhas aflições
Costumo sonhar com tempos tranqüilos
Sem infortúnios, sem lamúrias

E as noites escandalosamente escuras
Onde fogem as visões desta lonjura
Precipita o crepúsculo ilheiro

Surgem os manguezais e atlânticas matas
Onde habitam os meus fagueiros desejos
E as ostras, peixes, paixões e devaneios

(Jaguar Araújo, Agosto/2007)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

TUAS NOITES MINHAS



No melhor momento
o sorriso, descarado,
estampado em tua face de menina travessa.
No melhor segundo, o transe,
a respiração ofegante;
e eu te chamei de minha.
No auge do teu descanso
a minha insônia perplexa
observara teu corpo branco, sadio,
e teu orgulho feminil,
afogando-se em meu gozo.

(Jaguar Araújo, Nov/2005)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

NO TOBOGÃ DA TARDE

Texto escrito no início da década de 90, quando eu ainda fazia parte da “Cães de Guarda”, banda de Rock que infernizava a Liberdade com seus ensaios barulhentos, regrados a muito whisky J&B e cerveja(ainda bem, nada de drogas!!!) e era para fazer parte do repertório da mesma.
Não deu tempo, lembro que pouco tempo depois os compromissos amorosos fizeram a banda ruir; coisas da vida...
No entanto, anos após, lembrei-me da letra, na mesma ocasião, percebi o quanto ela era interessante, gostosa, atual.
Essa coisa de que, em determinados momentos de desejo, sem frieza, existem lances mais interessantes do que se preocupar com compromissos sérios e outras situações do tipo. O bom mesmo é aproveitar e se divertir; sendo que o prazer seja sempre recíproco.


Hoje eu vi o sol
No tobogã da tarde
Minh’alma estava tão só
Que não hesitou em te chamar
E você vinha simplesmente
Entre as nuvens da noite que estava para chegar
Logo você
Que já me acusou de tantas coisas
Mas, o que é a vida senão um poço de pecados ?
E quem mais conhece os meus desejos ?

(Jaguar Araújo)

terça-feira, 13 de novembro de 2012


Farta de violência esta era; sobre amor, quase nada. Não sei o que acontece com as pessoas, “temem provar o néctar do sentimentalismo”.
Sempre que tive a possibilidade amei, à minha maneira, é lógico, mas amei.
E esse sempre foi meu ópio, ter o prazer de participar de tantas almas fantásticas, colher o fruto, replantar, refazer...
E claro, quando sinto saudade desses instantes, eis que surge à inspiração:


Nunca mais te vi
E agora, encaro a clássica saudade
Da relva rasteira do teu monte
Do teu pão, teu vinho

Em ti vibrava o sol
E resplandecia em tua pele clara
Perfumada, salina
Em tantos dias de estripulias

Meu pesar por ti
É o azul-marinho
Do mar de Itaparica
Onde comigo, tu nunca navegaste

Lá, outrora, sozinho de alma
Quis tê-la ao meu lado
Vê-la linda, saliente
Envaidecendo-me...


Trilhei meu caminho, mesmo sem ti
Trilhaste o teu
Para assim viver esta minha existência
Saudosa de tantos bons acontecimentos

(Jaguar Araújo, Outubro/2012)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

POR MEU FILHO...


Na época, meu único filho era Rodrigo, o gordinho Davi ainda nem sonhara em nascer. E Em uma das muitas noitadas a fora, ocorrera comigo um acidente automobilístico. Fisicamente, graças a Deus e Yemanja(odoiá minha mãe!) pouco sofri, porém o susto foi enorme.
Temi realmente pela minha vida, mas, no exato momento em que despertei do espanto, a primeira pessoa que me veio à mente foi meu filho Rodrigo. Pensei no quanto ele dependia de mim naqueles tempos e o quanto meu amor por ele era imenso.
Lembro-me que quando cheguei à minha antiga residência, tomei um banho, deitei ao lado dele, naquela pequenina cama e fiquei ali, quieto,  olhando aquela criança; tão inocente e tão indefesa. Agradeci a tudo e a todos que me deram sorte de ter saído ileso naquele instante, fechei meus olhos e a poesia mais linda fluiu, com toda honestidade e sinceridade que um homem pode ter.


Agora que estou vivo
vivo para quem quer que eu viva
minha vida, finita, agora brilha
nas fronhas coloridas da pequena cama
no cheiro de jasmim que ele dissipa
na prece que para mim ele reclama
na paixão que em meu peito precipita.
                                                              (Jaguar Araujo, 14/01/2009)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

DIAS TRISTES


Quando perdi a minha querida mãe, a vida me pareceu um tanto confusa; um misto de ódio e incompreensão. Pensei em meus irmãos, em meu filho, lembrei do meu saudoso pai e revisitei o meu próprio tempo. Tudo parecia muito vago, desnecessário.

Hoje em dia o descontentamento ainda permanece, porém de uma forma mais amena. No entanto eis que surge para mim um novo filho, e, de certa forma, cada vez mais a rotatividade das espécies parece óbvia. Porém, isso nunca ira me fazer compreender o sofrimento.
E esse texto fala sobre isso, essa amargura...


Ondas do mar, passantes
Levam consigo, com um tempo
O lamento das algas, dos crustáceos
Da areia
Que, sobreposta, serve-me de divertimento
Edificando castelos
Emaranhados de princesas
Que ilustram minha vida
Sempre bendita
Apesar das pedras pontiagudas
Escondidas entre os corais do tempo
Que, como as ondas, passa
Levando consigo o lamento
Das algas, dos crustáceos
E das queridas pessoas.

(Jaguar Araújo, 01/2010)

terça-feira, 15 de maio de 2012

NUNCA MAIS...


Sempre que me lembro do passado é com alegria, satisfação, nostalgia. Tempos de uma boemia exagerada no bom sentido, noitadas loucas. Altíssimas farras regradas sempre a belas mulheres e muita, muita bebida.
Arrependimento? Ah! Isso nunca existiu. A vida é curta e é para ser vivida. E como já diria Claudio Baglioni em sua canção, interpretada também tão lindamente por Renato Russo (http://www.youtube.com/watch?v=M_ZB8GoXFp8): Lá vita è adesso! Ou seja, a vida é agora!!!
Era o velho período das descobertas, que, graças a Deus, sempre foram do bem.
O texto abaixo remete a isso, escrito na década de 90, vivenciava o exato momento, entre o retorno da boemia e a vida cotidiana.




Encontro o meu cálice
Solitário sobre a janela
Restos de vinho e desventuras
Misturados ao orvalho da manhã sincera
Triunfante dor de cabeça
Gosto de fel na minha boca
Que, distante dos beijos de outrora
Reza o perdão da minha fúria louca


(Jaguar Araújo, Junho 1996)