quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

NO TOBOGÃ DA TARDE

Texto escrito no início da década de 90, quando eu ainda fazia parte da “Cães de Guarda”, banda de Rock que infernizava a Liberdade com seus ensaios barulhentos, regrados a muito whisky J&B e cerveja(ainda bem, nada de drogas!!!) e era para fazer parte do repertório da mesma.
Não deu tempo, lembro que pouco tempo depois os compromissos amorosos fizeram a banda ruir; coisas da vida...
No entanto, anos após, lembrei-me da letra, na mesma ocasião, percebi o quanto ela era interessante, gostosa, atual.
Essa coisa de que, em determinados momentos de desejo, sem frieza, existem lances mais interessantes do que se preocupar com compromissos sérios e outras situações do tipo. O bom mesmo é aproveitar e se divertir; sendo que o prazer seja sempre recíproco.


Hoje eu vi o sol
No tobogã da tarde
Minh’alma estava tão só
Que não hesitou em te chamar
E você vinha simplesmente
Entre as nuvens da noite que estava para chegar
Logo você
Que já me acusou de tantas coisas
Mas, o que é a vida senão um poço de pecados ?
E quem mais conhece os meus desejos ?

(Jaguar Araújo)

terça-feira, 13 de novembro de 2012


Farta de violência esta era; sobre amor, quase nada. Não sei o que acontece com as pessoas, “temem provar o néctar do sentimentalismo”.
Sempre que tive a possibilidade amei, à minha maneira, é lógico, mas amei.
E esse sempre foi meu ópio, ter o prazer de participar de tantas almas fantásticas, colher o fruto, replantar, refazer...
E claro, quando sinto saudade desses instantes, eis que surge à inspiração:


Nunca mais te vi
E agora, encaro a clássica saudade
Da relva rasteira do teu monte
Do teu pão, teu vinho

Em ti vibrava o sol
E resplandecia em tua pele clara
Perfumada, salina
Em tantos dias de estripulias

Meu pesar por ti
É o azul-marinho
Do mar de Itaparica
Onde comigo, tu nunca navegaste

Lá, outrora, sozinho de alma
Quis tê-la ao meu lado
Vê-la linda, saliente
Envaidecendo-me...


Trilhei meu caminho, mesmo sem ti
Trilhaste o teu
Para assim viver esta minha existência
Saudosa de tantos bons acontecimentos

(Jaguar Araújo, Outubro/2012)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

POR MEU FILHO...


Na época, meu único filho era Rodrigo, o gordinho Davi ainda nem sonhara em nascer. E Em uma das muitas noitadas a fora, ocorrera comigo um acidente automobilístico. Fisicamente, graças a Deus e Yemanja(odoiá minha mãe!) pouco sofri, porém o susto foi enorme.
Temi realmente pela minha vida, mas, no exato momento em que despertei do espanto, a primeira pessoa que me veio à mente foi meu filho Rodrigo. Pensei no quanto ele dependia de mim naqueles tempos e o quanto meu amor por ele era imenso.
Lembro-me que quando cheguei à minha antiga residência, tomei um banho, deitei ao lado dele, naquela pequenina cama e fiquei ali, quieto,  olhando aquela criança; tão inocente e tão indefesa. Agradeci a tudo e a todos que me deram sorte de ter saído ileso naquele instante, fechei meus olhos e a poesia mais linda fluiu, com toda honestidade e sinceridade que um homem pode ter.


Agora que estou vivo
vivo para quem quer que eu viva
minha vida, finita, agora brilha
nas fronhas coloridas da pequena cama
no cheiro de jasmim que ele dissipa
na prece que para mim ele reclama
na paixão que em meu peito precipita.
                                                              (Jaguar Araujo, 14/01/2009)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

DIAS TRISTES


Quando perdi a minha querida mãe, a vida me pareceu um tanto confusa; um misto de ódio e incompreensão. Pensei em meus irmãos, em meu filho, lembrei do meu saudoso pai e revisitei o meu próprio tempo. Tudo parecia muito vago, desnecessário.

Hoje em dia o descontentamento ainda permanece, porém de uma forma mais amena. No entanto eis que surge para mim um novo filho, e, de certa forma, cada vez mais a rotatividade das espécies parece óbvia. Porém, isso nunca ira me fazer compreender o sofrimento.
E esse texto fala sobre isso, essa amargura...


Ondas do mar, passantes
Levam consigo, com um tempo
O lamento das algas, dos crustáceos
Da areia
Que, sobreposta, serve-me de divertimento
Edificando castelos
Emaranhados de princesas
Que ilustram minha vida
Sempre bendita
Apesar das pedras pontiagudas
Escondidas entre os corais do tempo
Que, como as ondas, passa
Levando consigo o lamento
Das algas, dos crustáceos
E das queridas pessoas.

(Jaguar Araújo, 01/2010)

terça-feira, 15 de maio de 2012

NUNCA MAIS...


Sempre que me lembro do passado é com alegria, satisfação, nostalgia. Tempos de uma boemia exagerada no bom sentido, noitadas loucas. Altíssimas farras regradas sempre a belas mulheres e muita, muita bebida.
Arrependimento? Ah! Isso nunca existiu. A vida é curta e é para ser vivida. E como já diria Claudio Baglioni em sua canção, interpretada também tão lindamente por Renato Russo (http://www.youtube.com/watch?v=M_ZB8GoXFp8): Lá vita è adesso! Ou seja, a vida é agora!!!
Era o velho período das descobertas, que, graças a Deus, sempre foram do bem.
O texto abaixo remete a isso, escrito na década de 90, vivenciava o exato momento, entre o retorno da boemia e a vida cotidiana.




Encontro o meu cálice
Solitário sobre a janela
Restos de vinho e desventuras
Misturados ao orvalho da manhã sincera
Triunfante dor de cabeça
Gosto de fel na minha boca
Que, distante dos beijos de outrora
Reza o perdão da minha fúria louca


(Jaguar Araújo, Junho 1996)

sexta-feira, 30 de março de 2012

À MUSA DE TODOS OS TEMPOS V


Ah, que olhar é esse
que me faz entregar as armas
que me rouba as palavras
na insanidade dos meus dias

Ah, que sorriso é esse
que me alucina
me faz perder a compostura
e me fascina

Ah, se ela soubesse
não usaria tão poucas vestes
não mais me acariciaria

Ah, tempo maldito
deste a ela o infinito
e a mim; pura fantasia.


(Jaguar Araújo, 1999)

quarta-feira, 14 de março de 2012

NOSTALGIA


Ah, Como eu queria
ver-te neste momento
nua e graciosa
diva do meu tempo

Ah, Como eu queria ver-te encostar
em meu peito
como eu queria beijar-te
em meu leito

Ah, Como eu queria...
queria ver teus olhos de esmeralda
festejando o dia
sentir a aura da manhã que chega
repleta de alegria

Ah, Quanta fantasia
desenganada e só
ronda o meu dia
quanta falta, quanta dor
Ah, Como eu queria...

(Jaguar Araújo / 1998)

quarta-feira, 7 de março de 2012


Do vasto campo das minhas ilusões
Da incomensurável satisfação das horas
Surge a minha poesia
Ornamentada com flores admiráveis
Jovens plantas ainda sem fruto
Colhidas na estação certeira
Naturais, sem vício qualquer.

(Jaguar Araujo, 07/03/2012)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

LEMBRANÇA DE UMA NOITE MARAVILHOSAMENTE INTERESSANTE



Inerte, sob minhas sabidas pupilas
Precipitou a jóia
Uma rara ametista incandescente
Rósea, de coração intacto

Repousara diante de mim, despida
De corpo e alma doce
Em meio ao silêncio da tara
Um fino whisky, a palidez atrevida

Da Grécia antiga
Herdara os cabelos alaranjados
A ninfa pele translúcida
A oliva de um suor de sabor delicado

Ha... que loucura bendita
Poder contemplar a aurora
E esta tua sensatez
Moça linda, jovem vida 




(Jaguar Araújo, 25/09/2009)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012



E as ondas vãs se alastram
Por este infinito deserto de dunas e solidão
 Solidão de ti, da tua pele clara
Da tua vanguarda engraçada
Do refinado gosto do teu corpo
Juvenil, incandescente

Neste amplo espaço vazio do meu tempo
Ainda te quero da mesma forma
Com um amor inacreditável, tímido, desaconselhável
Que não tortura e nem alegra, mas encanta
Como a deliciosa passagem do édem
Das jazidas ricas do meio das tuas pernas.

(Jaguar Araujo, Janeiro/2011)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O RETORNO DA INSPIRAÇÃO



Poderia ter sido com um lindo soneto, cheio de lirismo e de um romantismo ímpar, não faltaram possibilidades. Veio-me a lembrança mulheres belíssimas e seus gestos, fragrâncias, semblantes. Mas, não foi bem assim. O retorno deu-se ao revisitar, meio que sem querer, “Um Índio – Caetano Veloso”, em meio ao caótico trânsito de Salvador (sempre escuto música ao dirigir, é meu hobby preferido).
Que a letra é extraordinária eu já sabia, o grande lance é o contexto: 2012, ano do suposto fim dos tempos, de acordo com a profecia Maia!!!
Na letra de Caetano, que tem tudo a ver com o tema, inicialmente transcorre o messianismo indígena:
“Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante”

Além do Indianismo citado na figura de Peri, personagem que é uma espécie de herói do romance “O Guarani”, de José de Alencar, há também, nesse ser, fundamentalmente a necessidade de diversidade religiosa, indicada na musica nas figuras de Bruce Lee, simbolizando a crença oriental; Muhammad Ali, norte americano convertido ao Islã e os Filhos de Gandhi, focando a religião africana(candomblé).
“Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias”

Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá
 “Quanto à profecia Maia e a realidade da medição temporal dessa civilização, Orlando Casares - arqueólogo do Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH), explica:
 “Um ano dos maias se dividia em duas partes: um calendário chamado ‘Haab’ que falava das atividades cotidianas, agricultura, práticas cerimoniais e domésticas, de 365 dias; e outro menor, o ‘Tzolkin’, de 260 dias, que regia a vida ritualística.
A mistura de ambos os calendários permitia que os cidadãos se organizassem. Dessa forma, por exemplo, o agricultor podia semear, mas sabia que tinha que preparar outras festividades de suas deidades, ou seja, não podiam separar o religioso do cotidiano.
Ambos os calendários formavam a Roda Calendárica, cujo ciclo era de 52 anos, ou seja, o tempo que os dois demoravam a coincidir no mesmo dia. Para calcular períodos maiores utilizavam a Conta Longa, dividida em várias unidades de tempo, das quais a mais importante é o “baktun” (período de 144 mil dias); na maioria das cidades 13 “baktunes” constituíam uma era e, segundo seus cálculos, em 22 de dezembro de 2012 termina a presente”.
Ou seja, terminaria a era, não o mundo em si.

Continuando com a letra de Caetano:
“Num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio.”
Conseqüentemente ocultamos em nosso íntimo a consciência do necessário para livrar a humanidade da autodestruição, no entanto é imperativo que um ser celestial, possuidor de uma linguagem comum a todos, e acima de quaisquer questionamento, possa então nos revelar.
Bom, o fato é que me lembrei de uma interpretação magnífica de Bethânia dessa música, lá na longínqua década de 80, e que ainda sim emociona.

E ainda bem, está no ótimo Youtube:



E quem sou eu, homem comum, o único sonhador capaz de devendar todos os segredos da vida?

(Jaguar Araújo, janeiro/2012)