segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

À MUSA DE TODOS OS TEMPOS


Jóia rara, ametista
Pedra que descobri garimpando
Neste meu vasto manancial de luxúria
Vieste a mim única, intacta
Distinta de tantas outras

Teu brilho ressaltava
Uma dominância exclusiva
De valor inestimável
Acendera a mim por pouco tempo
O suficiente para tornar-se minha melhor inspiração

Deusa Indiana
De pequeninos olhos de rubi
Atormentara-me durante dias
Dias de afirmação, de glória
Da descoberta da máxima riqueza

Dias de dominância plena
Do teu corpo, mulato, esguio
Insistente, admirável
Fascinando-me a todo instante
Fazendo meu destino vacilar.

(Jaguar Araújo, 28/07/10)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A BRANCA PÉROLA NEGRA DO BLUES

"Janis cantou na face de um furacão. Ela não “cantava” simplesmente uma canção – ela a devastava, retalhava, a fazia explodir. E, no mesmo momento, podia ser incrivelmente suave, acariciando cada palavra com ternura e compreensão. A energia de toda uma vida ela a jogou em poucos anos. Janis “ao vivo” podia cantar sob a tormenta. Ou começar tudo de novo se ela silenciasse.
Seus discos são seu testamento. Ouvindo-os agora, eles inspiram não tanto simples admiração e aplausos – mas pasmo. Surpreendemo-nos com um fato de que um ser humano – sim, grandemente dotado e talentoso, mas uma pessoa – pudesse dar tanto."
Texto escrito por Clive Davis (presidente da Gravadora Columbia Record) extraído da contracapa do LP póstumo “JANIS IN CONCERT” , lançado em 1972, que em minha adolescência tive o imenso prazer de adquirir e escutar...

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A MORTE DO BEIJA-FLOR NA CIDADE GRANDE

Certo dia, peregrinando por entre uma das ruas da velha Cidade Baixa, mais precisamente nas proximidades do Mercado Modelo, deparei-me com uma cena no mínimo inusitada. Ali, tombado no chão, encontrava-se um falecido beija-flor.  Pode parecer mera bobagem, mas não me lembrava de ter visto uma cena daquela antes. O pássaro, ainda ressaltava o brilho das penas...
Ali, diante de uma ave tão bela, tão rara naquela vastidão de edificações que inevitavelmente o progresso nos proporciona, ele era velado com milhares de pisadas e pontapés inconscientes. Afinal de contas, com o corre-corre nosso de cada dia, quem tem tempo para perceber um passarinho morto?
Talvez esse seja nosso problema, não temos tempo para mais nada. Somos filhos da rapidez, da ambição, do materialismo; Todos nós somos! Perdemos um pouco do encanto, da percepção dos detalhes de cada segundo desta nossa maravilhosa e finita vida. 

Certo mesmo estava Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem” (essa frase eu escutei em umas das raras aulas de economia assistida por mim, normalmente eu estava no bar da esquina mesmo!)


ÁRVORES SEDENTAS PADACEM
POR DETRÁS DOS INÚMEROS PRÉDIOS SALTIMBANCOS
MORADA DE VIDAS JOVENS CEIFADAS
PELAS MÃOS POBRES DO CAUDILHO

E NA ATMOSFERA SEM AMOR
ABSURDAS FACES ESTARRECIDAS
ESQUEÇEM DE SI MESMA
CRUZANDO OS ESPELHOS PERDIDOS

NEM PERCEBEM A FALTA DO NÉCTAR
NEGAM-SE A MOLHAR AS PLANTAS
A COLHEREM OS FRUTOS
E ALIMENTAR OS FILHOS

OS FILHOS QUE FARÃO O MESMO
E SERÃO MORTOS PELA MESMA ESPADA
PASSARÃO DESAPERCEBIDOS
POR ESTE POBRE SOL DA NOSSA CAVALGADA

A NA ESQUINA SECA, PÁLIDA
JAZ O BEIJA-FLOR
AZUL ESVERDEADO, ESGUIO
EXPOSTO NA SALA MORTUÁRIA DO DESTINO
VELADO POR TANTOS CORAÇÕES VAZIOS

(Jaguar Araújo - 15/01/2007)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Nu, estou eu
Nua, estás tu
na eminência à delinqüência
em meu falo, o teu cu

Nu, sem desavenças
e em tua face a feliz aparência
de quem freqüenta, com veemência
o santo óleo de urucum

Sem veneta
implora que eu lhe esporre a boca
os peitos, a boceta

Sem aleotrias
Encontro-me perplexo, exausto, satisfeito...
fizeste jus a putaria


(Jaguar Araújo / 2009)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A SIMPLICIDADE DE UM GÊNIO

O contato com a música de cartola deixou em mim, entre outras maravilhosas impressões, a certeza de quão linda é a poesia natural. Aquela que flui espontaneamente, infestada de sentimentos únicos, que, por serem momentâneos, possui uma força extraordinária.
Poesia e melodia, perfeitas. Esculpidas no fundo d’alma.
A música popular brasileira na sua verdadeira essência.


Tive, sim
outro grande amor antes do teu, tive sim
o que ela sonhava era os meus sonhos e a assim
Iamos vivendo em paz
nosso lar, em nosso lar sempre houve alegria
e eu vivia tão contente
como contente ao teu lado estou

Tive, sim 
mas, comparar com teu amor, seria o fim
e vou calar, pois não pretendo amor te
magoar.

(cartola)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

UMA HOMENAGEM AO AMOR

O amor torna as coisas mais límpidas, aguça a visão, fantasia tudo. O ser mais violento se abate. Torna-se senão frágil, acessível.
Bacana mesmo é ver tudo sobre essa ótica. Garimpar diamantes em meio ao asfalto duro, colher flores em um vasto jardim imaginário, todo pela simples possibilidade de arrebatar um terno sorriso, uma simples deixa para a liberdade de sentir. E aí, meus camaradas, a coisa toda fica gostosíssima!
E o chão do quarto, a cama, a escada do motel, a ponta da lua quarto-crescente que o diga.




















As libélulas dançam
E este jardim parece estar ainda mais luxuoso
Brotam ametistas das parreiras
Âmbar dos pinheirais

O ouro do sol reflete luzes
Que fagulham sob as águas
Tranqüilas da lagoa, que tilintam
Vagarosamente rente as minhas pupilas

Colho o fruto do ventre
Provo a saliva dos Deuses
Pássaros observam cantantes
Sob os galhos dispersos das amendoeiras

E o arco-íris libertino
Abre à passagem, a cortina, as pernas
Desta minha moça fantasia
Infestada de delícias e redenção

(jaguar Araújo - 21/12/2007)