segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A MORTE DO BEIJA-FLOR NA CIDADE GRANDE

Certo dia, peregrinando por entre uma das ruas da velha Cidade Baixa, mais precisamente nas proximidades do Mercado Modelo, deparei-me com uma cena no mínimo inusitada. Ali, tombado no chão, encontrava-se um falecido beija-flor.  Pode parecer mera bobagem, mas não me lembrava de ter visto uma cena daquela antes. O pássaro, ainda ressaltava o brilho das penas...
Ali, diante de uma ave tão bela, tão rara naquela vastidão de edificações que inevitavelmente o progresso nos proporciona, ele era velado com milhares de pisadas e pontapés inconscientes. Afinal de contas, com o corre-corre nosso de cada dia, quem tem tempo para perceber um passarinho morto?
Talvez esse seja nosso problema, não temos tempo para mais nada. Somos filhos da rapidez, da ambição, do materialismo; Todos nós somos! Perdemos um pouco do encanto, da percepção dos detalhes de cada segundo desta nossa maravilhosa e finita vida. 

Certo mesmo estava Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem” (essa frase eu escutei em umas das raras aulas de economia assistida por mim, normalmente eu estava no bar da esquina mesmo!)


ÁRVORES SEDENTAS PADACEM
POR DETRÁS DOS INÚMEROS PRÉDIOS SALTIMBANCOS
MORADA DE VIDAS JOVENS CEIFADAS
PELAS MÃOS POBRES DO CAUDILHO

E NA ATMOSFERA SEM AMOR
ABSURDAS FACES ESTARRECIDAS
ESQUEÇEM DE SI MESMA
CRUZANDO OS ESPELHOS PERDIDOS

NEM PERCEBEM A FALTA DO NÉCTAR
NEGAM-SE A MOLHAR AS PLANTAS
A COLHEREM OS FRUTOS
E ALIMENTAR OS FILHOS

OS FILHOS QUE FARÃO O MESMO
E SERÃO MORTOS PELA MESMA ESPADA
PASSARÃO DESAPERCEBIDOS
POR ESTE POBRE SOL DA NOSSA CAVALGADA

A NA ESQUINA SECA, PÁLIDA
JAZ O BEIJA-FLOR
AZUL ESVERDEADO, ESGUIO
EXPOSTO NA SALA MORTUÁRIA DO DESTINO
VELADO POR TANTOS CORAÇÕES VAZIOS

(Jaguar Araújo - 15/01/2007)

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