quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

INVERNO EM TAIRU



Ondas e areias abastadas
Sedutora cor de marfim
Alastra-se na praia despovoada
Neste desmedido inverno sem fim

O frio à beira da estrada
Barrento caminho incomum
Visões de nuvem embaçada
Leva-me a lugar algum

Sargaços e ilusões na areia
Traz-me a sorte do incandescente sol
Oh, minha rainha sereia

Pois como posso admirar as morenas
Se a chuva espessa da ilha
De mim não tem pena?

(Jaguar Araujo, 10/2008)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

CONTO DE AMOR E SAUDADE



Atrevidas manhãs, maiúsculas, infestadas de prazeres incontidos. Lembro-me de ontem, do teu quase beijo, do teu vergonhoso sorriso, das tuas sutis gargalhadas.

Nunca te amei, na verdade, nunca quis amá-la, não teria cabimento. Servir-me-ia apenas um misero segundo, o suficiente para vê-la esguia, desnuda diante de mim numa das minhas fantásticas noites infindas.

E se esvaíram as noites, e o que ficou foi a neblina fria deste momento saudosista, o teu cheiro evaporou-se no ar e as pedras preciosas que habitara teus olhos não viram o meu lado ourives, partiram sem serem lapidadas por minhas mãos. Restou-me o abandono e com ele sigo agora o meu destino de garimpeiro.


(Jaguar Araújo, Fev/2000)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O BEM-VINDO VERÃO...



As ondas, o oceano
O bem-vindo verão
E a rubra cor da pele das meninas
Ah, as meninas...

E como são belas
E vem delas a vocação para esta minha aquarela
Desse brilho incandescente que fascina
Ah, essas admiráveis meninas...

Quanta fúria
Nestas pequenas vestes que me atormenta
Cais perfeito para essa minha descalça luxúria
E este meu falo que não se contenta

Ah, avarentas!
Estas pudicas fêmeas que não freqüenta
Este meu delírio incontrolável de quarenta
E se acovardam, vestidas, em um clausulo só.

(Jaguar Araujo, 26/09/2008)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

TEMPESTADE SOLAR (por uma grande amiga)



Eis aqui a aurora
Cintilante
Os primeiros raios solares enfeitam o horizonte
De um tempo infinito, de flores, de cores
De uma alegria única que não se esvai nunca
Apenas evolui

Para outros cantos, outros seres
Outras vidas
Instantes estes
Onde jamais existirão lágrimas 
Somente a lembrança
Dos cantos, dos jardins, do quarto

E de onde outrora reinavam minhas glórias
Cresceram pequenas plantas rasteiras
Inebriadas de um íntimo aroma floral
Que enriquece os ares
Que acalanta a minh’alma

Que me faz descansar sossegado
Santificado, por uma bendita alegria noturna
Nestes Intermináveis rios de glórias
De travessuras
De uma louca e sã fantasia

(Jaguar Araujo, Nov/2009)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O AMOR E O JAZZ...

Que bom ouvir Coltrane assim, no mesmo instante em que relembro um texto ornamentado por paixão, tristeza e renúncia. E a alegria de ter tido o imenso prazer em participar de tais momentos, cheios de realismo e delicadeza.

Desta forma o bom amor e o jazz se confundem, ambos abarrotados de improvisos, livres, com um encanto extraordinário, muitas vezes sem começo, sem meio, sem fim.




À MUSA DE TODOS OS TEMPOS IV


Das gotas de orvalho
De cada manhazinha, de cada madrugada perdida
Surgem minhas lágrimas
Da alegre tristeza de tua partida
Pois nunca foste minha
Sequer aliança de ouro
Ou anel de esmeraldas

Do fundo da alma
Enriquecida de puberdade
Vieste aos meus olhos
Não como pingente, mas colírio
Para as margens longas do meu mundo
Destrocando-o, com tua milimétrica beleza
Sob ondas diárias, cristalinas

Fugiste breve
Tarde foi meu alvorecer
E esta minha empáfia absurda 
De não me querer ver vencido
Por tua magnífica perfeição
Que ainda fascina
Tantos anos após me envolver


(Jaguar Araujo, outubro/2011)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

ONTEM A NOITE


Uma noite, uma dança
doses de vinho
ter teu corpo em meu ninho
desesperança

meu mundo em cio
beijos melados
corações vazios
dilacerados

prantos suspeitos
elos perfeitos
corpos surrados

fim de madrugada
mais uma vez, deu em nada
mais uma vez, camas vazias.


(Jaguar Araujo, 01/1990)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011


Em tempos de discussão sobre qualidade musical, é uma imensa satisfação escutar Caetano, sempre mágico e extraordinário poeta. Nestes instantes, não me preocupo com o que está acontecendo musicalmente à minha volta; apenas viajo, satisfaço meu ego, minha intimidade.
Em meio a toda essa algazarra, não nos esqueçamos que temos em nosso poder o maior instrumento democrático da modernidade: O controle remoto!
Sei que na arte em geral existem coisas bacanas e detestáveis, apenas curto o que me emociona, há um momento oportuno para tudo e todos.



quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MEU - DJAVAN



Você sabe fazer tudo o que faz
nada existe em você que eu não goste demais
quando você diz me apaixonei por você, "meu"
faz a cara feliz de quem sabe o que é seu
eu nunca vi nada assim "ô loco"!!!
e o que faz o amor pra se proteger,
dá um "zignal" na dor é vetado sofrer
discordar, discutir nada é mais saudável,
não, não, não
um olhar neném de ser logo fecha a questão
eu nunca vi nada assim "ô loco"
ar, só com você, mar, com você qualquer fundura dá
tudo é tão meu quando você vem se chegando,
chegando de um modo só seu



(Djavan, CD Milagreiro/2001)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O SUAVE ENCANTO DA SAUDADE


Lembrei de ti
Serena, deitada na cama
Teus cabelos alaranjados despejados sobre o lençol
No semblante, a gostosa fadiga
Tu adormecias...
Em um sono delicadíssimo
Sonho de princesa

E do alto da guarita dos desejos
Eu, estupefato, maravilhado
Montava guarda
Armado com o mais potente e extraordinário amor
Amor que me fizera
Demorar em crer
E ambicionar jamais envelhecer


(Jaguar Araujo, 08/2011)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

LOUÇA FINA


Gosto de brincar na relva
Na grama curta dos teus montes
Entre o jardim das tuas pernas
Podado, rasteiro feito grama nova

Gosto de viajar
Por entre os pelos curtinhos da tua ínfima barriga
Da tua perna depilada, translúcida
Brilhante sob o sol fluorescente dos meus olhos

Gosto de ti assim: pelada
Expondo ao meu paladar requintado
A tua carne crua, rubra, cheirosa
Na companhia de um vinho chileno: ora taça, ora xota

(Jaguar Araújo, 2007)

terça-feira, 5 de julho de 2011

POEMA DE ÚLTIMA HORA (Por uma grande amiga)


 
Teu amor é divino
é venenoso
é saboroso
 
Tua face é limpa
teus olhos são claros
cabelos lisos, longos e grandiosos

Quisera eu ter a virtude da vida
somente para minha
cresceriam rios de invejosos

 Tua amizade é farta
é de toda hora, todo lugar
sempre grata

Eis que surge no repente das horas
o desejo fogueiro de elogiá-la
de respeitá-la

Eis que surge nos lençóis da vida
a vontade de tê-la
ter prazer, saciá-la...

(Jaguar Araújo 21/01/2009)

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A ESBOFETADA (de Nelson Rodrigues)

"Ou a mulher é fria ou morde. Sem dentada não há amor possível.""

"Nem toda mulher gosta de apanhar, só as normais"

(Nelson Rodrigues)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

AVASSALADORA

Essas montagens do youtube são um “pé no saco”, mas a música é fantástica, como toda a obra de Gonzaguinha foi:  Letra e interpretação comoventes. Não dá para escutar “Avassaladora”  sem desprender um escroto sorriso de canto de boca.
 Linda muito linda...

Avassaladora
senta no seu colo
lambe o pescoço
morde a orelha
enfia a língüa
por entre seus dentes
tomando toda a sua boca
ela é louca
muito louca e,
ele adora sua mão
apertando o que deseja
com calor e com carinho
ensinando o caminho
da loucura
e acabando com
seu medo de não poder
e o macho se solta
se larga, se acaba na
mão da rainha
com todo prazer.
e o macho desmonta
no grito de gozo
na mão da rainha
e desmaia
de tanto prazer.
 
(Gonzaguinha)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

À MUSA DE TODOS OS TEMPOS III

Ainda busco-te
No cochilo do tempo, das pessoas
Nos estandartes dos rostos
Nos meandros da covarde hora

Quem te fez rainha?
De coroa, cedro
Mesmo sem a grinalda que eu tanto desejara
Sem os delírios que eu te prometera

Tento encontrar-te
Magnífica, como outrora foste
Por entre os vastos e encantadores verões
Dos dias de hoje

Tu, mestiça, de sorriso alvo
De corpo esguio
De seios profusos e alegres
Adornara minha fugaz mocidade

E em teu palácio
Edificado no mais alto monte da beleza humana
Fui condenado e ser teu fiel escudeiro
Teu eterno servo, teu redentor.

(Jaguar Araújo)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Lenine - Todas Elas Juntas Num Só Ser


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...Se me surgisse uma moça dessas.
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três!...


(rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs, genial, genial...rsrsrsrsrsr...)
.............................................................................

terça-feira, 17 de maio de 2011

OS IDOS DE OUTRORA

O que restou da antiga boemia Soteropolitana, sempre foi responsável por muitos dos meus grandes instantes de inspiração. Como já dissera antes: “tempos de pouca violência”. Ali, na fatídica década de 80, tive curiosos momentos de aprendizagem. Lógico, “o ser humano é um eterno aprendiz”, já disseram tantos filósofos e poetas, e claro, nunca tive a menor dúvida disso.
Conseqüentemente ali, naqueles idos, percebi quão diversificada é a natureza humana, de tudo existe nesse mundo, e há de se ter cuidado em aceitar a individualidade de cada um.
Segundo Sartre, mesmo dentro do maior constrangimento - político, econômico, educacional ou outro -, existe um espaço, maior ou menor, para o exercício da liberdade individual, o que faz com que as pessoas possam se distinguir uma das outras, através das suas escolhas.
Os textos a seguir foram escritos naquela época, e estão encharcados por uma curiosidade que, ainda bem, em mim persiste de certa forma até hoje.


ONTEM A NOITE


Uma noite, uma dança
doses de vinho
ter teu corpo em meu ninho
desesperança

Meu mundo em cio
beijos melados
corações vazio
dilacerados

Prantos suspeitos
elos perfeitos
corpos surrados

Fim de madrugada
mais uma vez, deu em nada
mais uma vez, casas vazias


VIDA CRETINA


Palcos de tábuas
serpentes dançavam
sobre o espelho das minhas pupilas

Artifícios fervilhavam
sombras  mascaradas
fadas fesceninas

Loucos, burros suspiravam
e lambiam cada fada
cada serpente dançarina

E mais uma dose eu garganteava
e em cada gole eu ensaiava
a minha vida cretina.

FESTIM

Eu te procuro
temendo o constante perigo
pois da orgia malfadada
que reinou ontem a noite
só restaram trapos e corpos
estendidos no mesmo quarto
mal iluminado
palco exato para nossa festa

e no amanhecer de olhos delinqüentes
a única novidade aparente
era o desabrochar da última donzela
que agora, mulher de bel-prazer, comemora
exaltando as loucuras e luxurias
os delírios e as despreocupações
da vida mundana que a espera.



CARLOS GOMES
(A folia)

Entre becos escuros: damas
de barba aparada
de olhares felinos
quase femininos

e a noite que encanta, engana
com seus vícios infindos
com tantos gestos vazios
vadios

e o Bar Sem Nome ainda esbanja
homens sem barba
de olhares felinos
quase masculinos

e a vida me embaraça
por estes becos sem destino
pela luxúria lá da praça
pelo amor que aqui não passa.


(Jaguar Araujo, textos escritos entre 1895 à 1990)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

POEMAS TALHADOS EM TEMPOS DE PAPEL, CANETA E MUITO SENTIMENTO

                                                                                                 O AMOR
                                                                                    
O amor é sol, é sombra

É água, é fogo, é luz
É lua minguante
São instantes
Contemplações

O amor é casa
É cama, é gozo
É imensidão
Pobre do homem que não ama
Não sente, não existe

  É árvore, é fruto
  É todo o conjunto
                                                                     É aflição

                                                                                           É nada, é tudo
                                                                                           Meu mundo
                                                                                           Minha redenção


                                                         
A TARA !
                                                                                    

Gosto das putas fêmeas insaciáveis

Aquelas que aterrorizam
Aquelas inigualáveis

Gosto das mulheres que gozam
Aquelas desinibidas
Na pica ficam extasiadas

Amo-as!
Ha, felizes mulheres...
Quão deliciosas são despreocupadas

E soltam os seus cabelos
E raspam os pentelhos
E imploram a face ejaculada

Há Merda essa pudicas malditas!
Que negam uma mera siririca
E do amor não conhecem nada


(Jaguar Araujo, 1990)