terça-feira, 17 de maio de 2011

OS IDOS DE OUTRORA

O que restou da antiga boemia Soteropolitana, sempre foi responsável por muitos dos meus grandes instantes de inspiração. Como já dissera antes: “tempos de pouca violência”. Ali, na fatídica década de 80, tive curiosos momentos de aprendizagem. Lógico, “o ser humano é um eterno aprendiz”, já disseram tantos filósofos e poetas, e claro, nunca tive a menor dúvida disso.
Conseqüentemente ali, naqueles idos, percebi quão diversificada é a natureza humana, de tudo existe nesse mundo, e há de se ter cuidado em aceitar a individualidade de cada um.
Segundo Sartre, mesmo dentro do maior constrangimento - político, econômico, educacional ou outro -, existe um espaço, maior ou menor, para o exercício da liberdade individual, o que faz com que as pessoas possam se distinguir uma das outras, através das suas escolhas.
Os textos a seguir foram escritos naquela época, e estão encharcados por uma curiosidade que, ainda bem, em mim persiste de certa forma até hoje.


ONTEM A NOITE


Uma noite, uma dança
doses de vinho
ter teu corpo em meu ninho
desesperança

Meu mundo em cio
beijos melados
corações vazio
dilacerados

Prantos suspeitos
elos perfeitos
corpos surrados

Fim de madrugada
mais uma vez, deu em nada
mais uma vez, casas vazias


VIDA CRETINA


Palcos de tábuas
serpentes dançavam
sobre o espelho das minhas pupilas

Artifícios fervilhavam
sombras  mascaradas
fadas fesceninas

Loucos, burros suspiravam
e lambiam cada fada
cada serpente dançarina

E mais uma dose eu garganteava
e em cada gole eu ensaiava
a minha vida cretina.

FESTIM

Eu te procuro
temendo o constante perigo
pois da orgia malfadada
que reinou ontem a noite
só restaram trapos e corpos
estendidos no mesmo quarto
mal iluminado
palco exato para nossa festa

e no amanhecer de olhos delinqüentes
a única novidade aparente
era o desabrochar da última donzela
que agora, mulher de bel-prazer, comemora
exaltando as loucuras e luxurias
os delírios e as despreocupações
da vida mundana que a espera.



CARLOS GOMES
(A folia)

Entre becos escuros: damas
de barba aparada
de olhares felinos
quase femininos

e a noite que encanta, engana
com seus vícios infindos
com tantos gestos vazios
vadios

e o Bar Sem Nome ainda esbanja
homens sem barba
de olhares felinos
quase masculinos

e a vida me embaraça
por estes becos sem destino
pela luxúria lá da praça
pelo amor que aqui não passa.


(Jaguar Araujo, textos escritos entre 1895 à 1990)

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